A responsabilidade individual nos relacionamentos íntimos

Somos seres sociais que só existimos porque o outro também existe. Nos relacionamos desde o ventre de nossas mães e vamos aprendendo a nos relacionar conforme observamos e sentimos as pessoas e o mundo ao nosso redor. As relações íntimas e afetivas com ou sem amor se iniciam muito cedo e de diferentes maneiras, com diferentes pessoas. Quando se trata de uma paquera, de um namoro, um noivado, uma união estável ou um casamento, tudo toma profundidade. É diferente de relação familiar, de amizade, de boteco, grupos de escola ou de profissão.

A responsabilidade de cada parceiro no relacionamento íntimo.
Créditos: Giuseppe Comunian – Unsplash

O desejo de ter um amor ou um alguém para chamar de seu é algo visceral para alguns e uma idealização para outros. E qual a diferença entre esses dois? Um relacionamento afetivo e íntimo a dois, exige mais que o amor para ser grandioso, memorável, prazeroso e exemplo a ser seguido, o respeito precisa ser um dos pilares do relacionamento. Além de conexão instantânea, relacionar-se com alguém em profundidade é algo que exige outras variáveis como: afeto, tempo, energia, gentileza, ideais, desejo, projetos, sonhos, resiliência, valores, empatia, dedicação e outras coisas que podem ser essenciais para uns e para outros não.

Ao longo da nossa construção como pessoa, é de costume aprender muito mais sobre comportamento do que sobre relacionamento. E essa é a diferença entre relacionar-se de forma ideal e relacionar-se de maneira visceral ou autêntica. O ideal é aquilo construído na mente, independente do outro, acontece com um dos pares e, geralmente, isso não é compartilhado. O relacionamento autêntico, tem bases que faz com que a relação seja genuína, que nem tudo é como o outro gostaria que fosse.

Quando você acredita que precisa de alguém para ter inteireza, você vive de maneira insegura. Essa ansiedade afeta o seu relacionamento e você transfere responsabilidades suas para a outra pessoa, sem que ela saiba ou aceite isso. Você caminha com uma dúvida ao lado quando está na estrada do relacionamento. Isso se dá pelo fato de você não ter se preparado para se relacionar com consciência e maturidade, você repete comportamentos e padrões que viu ou presenciou na sua família, entre seus amigos, no trabalho, em algum lugar específico ou até mesmo nas redes sociais.

É saudável querer ou ter alguém para amar e também para receber amor. Agora, se na relação falta harmonia, seguridade, leveza ou trocas afetivas, saudáveis e prazerosas, é preciso analisar o motivo de manter essa relação. Se há um ideal ou necessidade de se ter alguém para se sentir alguém de valor, é preciso verificar essa falta de inteireza e dar permissão para a maturidade se instalar. Talvez uma crença ou uma dependência te deixa nesse relacionamento ou na necessidade dele, porque você vive uma escassez, talvez por falta de merecimento ou até mesmo de identidade.

A sua essência é a sua base, mas a maior parte das pessoas consideram umas às outras pelos seus pertences, comportamentos e resultados de erro ou acerto. A maturidade faz com que você vibre mais tempo na aceitação e na compreensão, você deixa o lugar de pessoa ferida e assume o lugar de pessoa curada. Assim, você não fica na ilusão e tira o peso de acreditar que o sentir ou pensar do outro sobre você revela algo que possa te abalar. 

Agora, se você está com alguém ou em encontro de um amor, lembre-se de que você é a pessoa mais importante dessa relação e que os seus atos e o seu sentir importam. Relacionar-se com o outro sozinho remete uma ausência que você pode e deve suprir. Assim como o outro é livre em si mesmo, você também é, mas pode ser que você aprendeu que amar alguém é sinônimo de ruptura ou até mesmo uma sentença. A maneira que você aprendeu a amar, como sente que está sendo amada ou acredita no amor, influencia diretamente na sua forma de se relacionar com as pessoas e o mundo. 

Ao acreditar que você ou o seu par precisa ser melhor para se relacionar, você perde tudo o que já aprendeu porque coloca foco no que não deu certo, naquilo que não te satisfaz ou nas referências que você pegou para você e nem analisou se isso é para você mesmo. Colocar o outro ou um relacionamento como mais importante que você é uma armadilha que você pode evitar passar por ela. O poder sobre o seu estado emocional e o que você faz com o que sente deve ser uma responsabilidade sua e por isso reagir de imediato e dar o poder do seu bem-estar ao outro não deve ser uma opção. O outro não tem obrigação de atender às suas expectativas ou assumir as consequências das suas escolhas, o que acontece no relacionamento é responsabilidade de ambos, mas o que acontece dentro de você só pode ser analisado, celebrado ou resolvido por você. 

Casal de mãos dadas na beira do mar.
Créditos: Jonathan Borba – Unsplash

O seu jeito de gostar ou amar o outro, provavelmente será diferente da forma que o outro vai te gostar ou te amar. Vale aquilo que você sente, o que você entrega e como você é ao lado dessa pessoa e distante dela. Ter um alguém ou um amor para chamar de seu requer habilidade para relacionar, pois é uma constante construção que exige manutenção, sendo necessários ajustes e renovações de tempos em tempos. A relevância que se deseja ter na vida do outro está diretamente relacionada ao quanto você nutre a si mesmo e sente paz dentro de si. A solitude é algo essencial em uma vida que preza por harmonia, mas a plateia dela é a mesma pessoa que a protagoniza. A solidão também é aprendida, só que ela não traz protagonismo e busca uma plateia. Solitude e solidão são antagônicas, apesar de acontecerem em um mesmo espaço. 

Quando se trata de relacionamentos, a solidão traz o movimento do medo de ficar sozinho e a solitude traz o movimento de apreciar a própria companhia. O amor é livre, imensurável e cada um tem a sua forma de sentir. Um relacionamento a dois também possui identidade própria e quem dá o tom da relação é a capacidade de aceitação de cada um dos pares. Se você quer alguém pra chamar de seu ou já tem esse amor, lembre-se de regar a si mesma para que fique e se responsabilize com aquilo que é seu, e continue transbordando para o outro o que vive em você com abundância e autenticidade.

É preciso amadurecer o jeito de relacionar e parar de se comportar do jeito que você acredita que o outro gostaria que você se comportasse. Se você não confia em si para viver em harmonia sozinha, você não vai ter relacionamentos efetivamente harmoniosos. Você pode se nutrir e se sentir suficiente, no lugar de acreditar que falta algo e que precisa fazer buscas externas para ocupar um vazio que talvez você não tem consciência real do que ele é ou representa. Isso pode acontecer enquanto você se relaciona com alguém e pode ser uma pauta interna sua, acompanhada de anotações pessoais, livros, chás, banhos relaxantes, terapia, hobbies, atividades físicas e de criatividade, é uma jornada de autoconhecimento e espaço para reconhecimento, pertencimento, resgate, renovação e amor para consigo e para quem você escolher dividir a sua preciosa vida.

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